UE – instrumento<br>de ingerência e opressão
No trabalho do Parlamento Europeu são recorrentes as discussões temáticas visando assuntos internos dos estados, sejam estados-membros da UE, sejam os chamados «países terceiros». Tal facto é uma cabal demonstração da postura de ingerência, interferência, chantagem e opressão que pauta a relação da União Europeia com Estados soberanos.
A sessão plenária, que hoje termina, é disso perfeito exemplo.
A maioria do PE voltou à carga com os ataques à Venezuela, impondo uma discussão distorcida sobre a situação naquele país. Uma discussão em que direita e social-democracia, ocultando deliberadamente as verdadeiras causas da crise económica que o país atravessa, e escondendo os avanços de 19 anos de revolução bolivariana, se lançam mais uma vez no apoio às manobras de desestabilização das forças reaccionárias e fascistas venezuelanas, legitimando e instigando a violência nas ruas e comprometendo o diálogo em curso, sendo já impossível esconder o desejo da maioria do PE de uma intervenção e agressão externas contra a Venezuela.
Paralelamente, o PE deu continuidade à pressão e chantagem sobre a Grécia. Na discussão sobre o ponto da segunda revisão do programa de ajustamento financeiro, a maioria do PE legitimou, mais uma vez, a austeridade e o empobrecimento, louvando as políticas extorsionárias sobre aquele povo.
Mas o ponto alto da sessão foi a discussão sobre o processo de negociações com o Reino Unido, com vista à sua saída da União Europeia.
Em resposta à decisão do governo britânico de activar o artigo 50.º do Tratado de Lisboa (decisão que dá início às negociações para a saída da UE) o Parlamento Europeu reagiu com uma resolução própria, em tudo similar ao posicionamento das demais instituições e potências da União Europeia. Desprezando a decisão soberana do Reino Unido, o PE adopta a postura narcisista da UE e de branqueamento das suas políticas, omitindo que o «Brexit» é acima de tudo uma expressão do distanciamento dos povos do projecto de integração. Um distanciamento que é indissociável das políticas de empobrecimento, de exploração, de austeridade e de total desprezo pelos justos anseios e necessidades dos trabalhadores e dos povos, por subserviência aos objectivos de concentração do poder político e económico, ao serviço do grande capital e das principais potências capitalistas na Europa.
Objectivos que a resolução prossegue, num exercício onde apenas o Reino Unido parece ter obrigações e responsabilidades a assumir, e onde se colocam condições negociais inaceitáveis, de chantagem altiva, que visam fazer desta saída um exemplo a não repetir, ao mesmo tempo que se utiliza a saída para impor a agenda de aprofundamento dos pilares neoliberal, federalista e militarista da UE.
Esta visão sobranceira sobre países soberanos, de desprezo e recorte neocolonial sobre os povos, são mais uma razão para justificar a necessidade de total ruptura com as políticas do processo de integração capitalista europeu, tendo como objectivo a construção de uma Europa de cooperação, de solidariedade e de paz, entre estados soberanos e iguais em direitos.